Entrevista Rabino Dan Juster

Entrevista Rabino Dan Juster

Daniel Juster é líder no Movimento Judaico-Messiânico desde 1972 e ensina Apologética desde 1971. Ele é pastor sênior da Congregação Beth Messiah (Casa do Messias), em Montgomery Country, Maryland EUA, e supervisiona várias congregações nos EUA e em vários outros países.  É também diretor do Conselho e Membro da Universidade Bíblica Messiânica e Escola de Teologia e Diretor do Ministério Tikkun.  Possui título da Wheaton College e Seminary Theological McCormick e tem ministrado em inúmeras conferências e igrejas. É autor de vários livros, dentre eles: Grounding to Maturity (Crescendo para a Maturidade), Jewish Roots (Raízes Judaicas), Israel, Church and The Lasts Days (Israel, Igreja e os Últimos Dias), The Irrevocable Calling (O Chamado Irrevogável) e outros. Leciona as disciplinas Teologia Judaico-Messiânica III e Israel, Igreja e Escatologia no Ministério Ensinando de Sião, em Belo Horizonte-MG.

Em entrevista exclusiva à Revista Cristã, ele nos falou sobre os verdadeiros motivos do conflito árabe-israelenses e esclareceu muitas dúvidas sobre a história do povo judeu. Confira.

Entrevista com RC: Qual o verdadeiro motivo da guerra entre árabes e israelenses?

Daniel Juster: O aspecto principal deste conflito é a soberania de Deus. Deus tem terra para todos os povos. Cada povo habita em uma terra que, em algum momento da história, conquistou. Todos tiveram que lutar pela sua terra. O Brasil, por exemplo, foi colonizado pelos portugueses e, em uma determinada época, foi tomado pelos brasileiros. Existe apenas um minúsculo pedaço de terra em todo o planeta que Deus separou para dar para um povo que Ele escolheu. Entre os milhares de acres que existem ao redor do mundo, Deus separou um pedacinho de terra e disse: aqui, minha vontade será cumprida. E o mundo todo diz não. Deus não pode se declarar soberano sobre nenhum pedaço de terra, por menor que seja. Esta é a raiz do conflito.

A causa deste conflito é muito simples, mas é algo que o mundo ocidental não quer encarar. E tem a ver com o entendimento muçulmano da palavra honra. Para o mundo ocidental, o muçulmano enfatiza a situação dos palestinos, como eles têm sido tratados, que eles não têm terra, mas isso é apenas uma desculpa do mundo islâmico para enganar os ocidentais e fazer com que eles pensem que este é o problema. Tudo isso é uma propaganda falsa para o mundo ocidental engolir. O verdadeiro problema com os muçulmanos é o problema de honra e vergonha quanto ao islamismo. O mundo islâmico clama que existem três lugares do mundo de desonra para o islamismo. O verdadeiro muçulmano sabe que um dia ou outro ele vai conquistar o mundo. E no islamismo, a espada, a guerra é legítima.

Existem então três pontos que trazem vergonha ao islamismo. E antes do islã conquistar o mundo eles têm que se redimir, consertar estes três aspectos que trazem vergonha a eles.

O primeiro aspecto que trás vergonha a eles é a expulsão dos muçulmanos da Espanha. O segundo é que eles perderam a guerra da conquista de Viena. E o terceiro é a pior desonra que eles consideram: a existência de Israel. Porque não é o fato dos judeus estarem lá. Mas é porque hoje, os judeus têm controle da terra que um dia foi dominada por muçulmanos. Quando os britânicos tomaram a terra de Israel dos turcos durante a primeira guerra mundial, o império turco foi destruído. Não importava se a terra estava desolada, não importava que a maioria dos habitantes de lá nos últimos 100 anos eram judeus, no importava se o trabalho e o dinheiro dos judeus restaurou a terra e a fez produtiva e próspera, porque a maioria do muçulmanos que vieram depois disto, vieram atraídos pela prosperidade que os judeus estavam trazendo àquela terra. Nenhuma destas causas importava. A principal razão era que, no centro do mundo árabe muçulmano, naquele território que, por centenas de anos foi considerado um território muçulmano,  agora não estava sob domínio muçulmano. Isto para eles é uma grande vergonha. Para eles, Israel é visto como o retorno dos Cruzados que querem tomar as suas terras. Na propaganda que os líderes árabes fazem ao seu próprio povo, eles falam que Israel é um país  de cruzados, falam sobre “Ricardo Coração de Leão”, falam sobre o sultão Saladino que expulsou o rei Ricardo e mandou os cruzados embora do Oriente Médio, e eles falam que a única maneira de redimir a honra do Islã é eliminando o estado de Israel. Então, um acordo de paz só daria tempo aos árabes para formar e armar um exército. Toda literatura que é escrita e distribuída para o povo árabe fala sobre esta verdadeira razão do conflito. Porém para o mundo ocidental, eles dizem a razão do conflito são os palestinos mal tratados e a situação em que eles vivem hoje. Se eles quisessem mesmo a paz, eles teriam entrado num acordo com o maior negociador que já existiu, Dennis Russ, que trabalhou no governo de Bill Clinton. O presidente Bill Clinton conta, no livro que escreveu recentemente, que o governo de Israel abriu mão de tudo que um país poderia abrir como por exemplo, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Só não abriu mão de alguns elementos que eram imprescindíveis para a defesa do país. Tudo isso para poder negociar com os palestinos. Deu a parte Leste de Jerusalém, o templo do monte, a cidade antiga de Jerusalém (menos o bairro judeu), e o Arafat não aceitou e chamou o mundo árabe para a “entifada”. Se ele quisesse mesmo tomar as terras de Israel ele teria aceitado este tratado. Porque ele poderia construir exércitos, criar um bom motivo de provocação e então, iniciar a guerra que ele sempre quis. Mas ele não fez isso. Talvez porque os árabes pensavam que, criando uma entifada, uma guerra santa, eles iriam destruir primeiro a economia de Israel, fazendo assim com que os judeus deixassem o país. Por isso este muro está sendo construído. Ele, de certa forma, bloqueia a entifada. Você nunca lerá isso em jornal nenhum, mas a verdadeira razão do conflito é esta.

Quando haverá paz?

Daniel Juster:Pode haver paz temporária, mas Israel jamais terá paz permanente, até que eles façam a pergunta: é Yeshua o Messias? E quando eles responderem sim a essa pergunta. Haverá paz. Até lá, somente existirá uma paz temporária. Em Lucas, no capítulo 22, a Bíblia diz: bendito será quando os judeus disserem ‘bendito aquele que vem em nome do Senhor. E o messias vem’.

O mundo ocidental também precisa entender algo. Mesmo que o ocidente abandone Israel por causa da paz, o Islã vai ter que conquistar a Espanha de qualquer jeito, porque o muçulmanos consideram uma grande vergonha eles terem perdido a guerra na França, que fez com que não conseguissem expandir o islamismo pelo resto da Europa. E eles querem conquistar a Europa. O Islamismo não é uma religião tolerante e nem de paz. Como a história nos relata, eles permitirão que judeus e cristãos habitem em suas terras, mas como cidadãos de segunda classe. Quando eles falaram em tolerância, é sobre isso que estão falando. Os mesmos direitos, jamais. E as mulheres nunca terão direito nenhum.

Então, o islamismo é apenas uma religião?

Daniel Juster:O Islamismo é uma religião. Qualquer povo, de qualquer raça, poderá se tornar islâmico. Muçulmano é aquele que é da religião islâmica. O árabe é uma raça no oriente médio, onde fazem parte os egípcios, iraquianos, sírios, palestinos, libaneses, sudaneses, marroquinos, todos estes países têm um povo que é chamado de árabe. E estes árabes clamam que descendem de Ismael. Mas, na verdade, pouquíssimos são verdadeiros descendestes de Ismael. Os sudanitas têm uma descendência direta de Isamel. E os beduínos também vieram de Isamel. Mas existiram outros povos no antigo Oriente Médio, como os assírios, os egípicios e os babilônicos. Estes povos não eram descendentes de Ismael. Então, o árabe que existe hoje é, na verdade, uma coletânea  não só de Ismael mas dos vários povos que já existiram ali. Com o passar do tempo, eles foram se misturando e hoje, eles clamam que são o povo árabe descendente de Ismael.

Na verdade, os palestinos não querem apenas um estado palestino. Eles querem Israel para eles?

Daniel Juster:Sim, eles querem Israel. Porém, não existe um povo chamada palestino. Se você perguntar a um palestino o que faz um palestino ser diferente de um árabe, eles dirão que não existe nenhuma diferença entre eles. Eles são iguais, falam a mesma língua e têm a mesma cultura. Alguns palestino, a minoria, já habitam há bastante tempo na terra de Israel. Esta é a única diferença que existe entre uma pequena parte da população palestina e os outros árabes. E esta é a verdade. Os árabes nunca ficarão satisfeitos com um país onde dois povos habitam. Esta história de que eles querem um estado palestino é apenas para o ocidente ver. O Arafat já disse que se Israel tiver dois países lá dentro, isto será apenas um estágio da “Girrad”, ou seja, para a guerra santa. Ele cita Maomé que disse: você pode entrar em paz com o infiel. Se for necessário, que você faça isso para se fortalecer. Esta é a única razão pela qual os árabes concordam com a paz. Porque eventualmente eles vão levantar a bandeira da “Girrad” e vão dominar. E com Israel eles fazem exatamente isto.

Esta paz temporária serviria apenas para atrasar a decisão que apenas os judeus podem tomar, de aceitar Jesus Cristo como o messias, fazendo assim com que esta guerra, finalmente, acabe.

Daniel Juster:Exatamente. Uma das maiores provas que temos de que o problema dos árabes não é a terra é que no passado, a África do Sul e a Jordânia ofereceram resolver o problema dos palestinos dando terra, mas eles não aceitaram. Eles deixaram planícies verdes na África do sul, terra boa, o que mostra, claramente, que o problema deles não é a terra.

Então, por mais que o mundo todo se esforce, ninguém conseguirá fazer algo eficaz para acabar com a guerra?

Daniel Juster:Os árabes podem aceitar a paz. Mas ela será temporária. E o mundo ocidental acharia que conseguiram a paz entre eles. Por exemplo, os árabes podem falar que aceitaram o acordo de paz com Israel e que concordam em ter dois estados. Depois, entre eles, dirão o seguinte: construiremos armamentos, mísseis, num novo estado palestino, enquanto Israel vai estar pensando que conseguiu, enfim, a paz. E aí, um muçulmano árabe mata alguns palestinos cristãos e falam que foi Israel que matou aquelas pessoas. E assim, têm uma desculpa para iniciar uma nova guerra. Só que agora eles estão bem armados, com mísseis e armamento pesado, para tentar dominar Israel. Porém, a situação vai ficar tão difícil para Israel que eles acabarão confessando Yeshua como salvador. É muito possível que o mundo ocidental e o islamismo cheguem a um acordo para alcançar paz com Israel. Eles buscarão uma paz entre o mundo ocidental e o islamismo. Para isto, eles terão que admitir que a ONU cometeu um erro em 1948 e dizer: para ter paz no mundo, teremos que eliminar Israel. E Israel vai recusar este acordo e vai lutar até a morte. Na minha opinião, esta será a grande batalha do Armagedon.

O muro que está sendo construído em Israel será benéfico para o povo judeu?

Daniel Juster:Israel tem quatro alternativas se os palestinos não derem uma trégua. E os judeus crêem nestas quatro opções. A primeira delas é aceita por pouquíssimos judeus (um em mil), que pensam que se deve matar todos os palestinos e todos os  problemas serão solucionados. A número dois: vamos transferi-los para um outro lugar. Vamos guerrear contra os países que nos fazem fronteira, fazer com que os palestinos atravessem estas fronteiras. Os que não quiserem vão morrer.  E vamos fechar as fronteiras. Opção três: vamos continuar exercendo o governo sobre eles. Então, eles não terão direitos e nem uma nação própria, e os judeus vão continuar morrendo. Opção quatro: vamos separá-los do nosso meio construindo um muro. Cada um fica do seu lado. E a economia deles será responsabilidade deles e não mais de Israel. Israel tentou, durante anos, estabilizar a economia dos árabes. Um fato muito importante: para o Ariel Sharom, chegar à conclusão de que a opção do muro seria a mais viável foi como uma conversão. Foi uma mudança radical.  Porque ele era uma das pessoas que mais defendiam a Cisjordânia fazendo parte de Israel. Porém, ele tem que proteger a população de Israel contra os ataques suicidas. E o muro servirá para isto. Ainda que Israel só tenha construído 30% dele, eles construíram nas áreas mais difíceis. E em apenas, quatro meses de existência do muro, não houve nenhum ataque suicida na região de Israel. Isto prova que ele funciona.

Qual estilo de governo está mais de acordo com a Bíblia? O trabalhista, de Shimom Peres, que entrega tudo, ou o de Ariel Sharom, que defende o estado de Israel.

Daniel Juster:Hoje, tanto um quanto o outro, estão bem fechado em seus diferentes pontos de vista. Ariel Sharom está mais perto da Bíblia, pois defende a preservação do povo judeu e do estado de Israel. Mas isto não é tudo. A Bíblia diz: se Israel não segurar a sua terra e se o povo judeu não obedecer a Palavra de Deus, eles irão perder a terra.

Em 2000 houve um Concílio em Israel e agora se pretende realizar o Concílio em Jerusalém II. Fale-nos sobre isso.

Daniel Juster:A idéia do Concílio nasceu há 400 séculos atrás, quando os ingleses colonizaram os Estados Unidos. O que os motivou a irem para lá foi a religião e a sua intenção de defender Israel como terra para os judeus. Antes desta época a igreja pensava que Deus tinha rejeitado o povo judeu e que a igreja substituiu Israel nas promessas da Bíblia. Mas agora estes mesmos puritanos crêem que o povo judeu é o povo escolhido e que no final dos dias os judeus vão aceitar Yeshua. Esta crença se espalhou pela Alemanha até os luteranos, chegou até a Escandinávia, enfim, espalhou-se pela Europa. Chegou a Inglaterra e Estados Unidos através das denominações evangélicas. Então, passou-se a ter esta convicção de que Israel ainda era importante nos planos de Deus. A igreja sempre ensinou que, devido ao fato de Deus ter rejeitado Israel e o povo judeu não ser mais escolhido, o judeu que aceitasse Yeshua como salvador não deveria mias se identificar como judeu. Mas ficou uma pergunta: se o povo judeu ainda é o povo escolhido e eles ainda são importantes no cenário dos planos de Deus, então, o judeu que crê em Jesus ainda é judeu e tem um chamado para viver e se identificar como judeu. Porque a Bíblia nos diz que os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis com relação à Israel. O esforço para ser realizar o Concílio em Jerusalém II é para congregar toda a igreja de todas as denominações e de todos os continentes para reconhecer que o judeu crente viver como judeu é bíblico e que ele pode e deve fazer isso. A razão pela qual eu chamo o evento de Concílio em Jerusalém é porque o primeiro Concílio em Jerusalém, citado em Atos 15, liberou os gentios crentes de viver como judeus. O objetivo do concílio é que possamos orar juntos. Eu sou um dos fundadores do concílio, mas o criador é John Dawson, que é o presidente da Jocum Mundial, que tem este concílio como a missão de sua vida.

Quando se pretende realizar este Concílio? E como fazer para participar?

Daniel Juster:Em setembro de 2006 alguns líderes irão se reunir em Jerusalém para interceder em prol do evento. E  em setembro de 2007, líderes de todas as denominações do mundo se reunirão em Jerusalém. Temos recebido apoio de igrejas de todas as denominações. Aqui no Brasil, o mover por este evento está começando agora e o tempo é curto. O Ministério Ensinando de Sião, cujo líder é o rabino Marcelo Guimarães. Precisamos agrupar dois tipos de pessoas. Um grupo de líderes de intercessores e um grupo de líderes de igrejas, para que alguns possam ir a Buenos Ayres, em setembro de 2005, onde teremos uma convocação na América do Sul e depois, convidaremos as mesmas pessoas,  para ir a Jerusalém em 2006. esperamos ter uma representação expressiva do Brasil em Jerusalém. Isto é muito importante.  Ter um grupo de pessoas de várias denominações que crêem mesmo no Evangelho. O cristianismo liberal não vai aceitar muito bem esta idéia por dois motivos. O primeiro é porque eles não crêem que é bom para os judeus crerem em Jesus. Pensam que o bom para os judeus é continuar no judaísmo tradicional. O segundo motivo é porque eles não concordam que o judeu crente deve continuar vivendo como judeu mesmo depois de aceitar Yeshua. Eles falam: ou você é cristão ou você é judeu. Isto é o que a comunidade judaica não messiânica quer que nos façamos. Os judeus não crentes falam isso. Você não pode ser judeu e seguir a Jesus. Isso é impossível. Mas eu creio que é imprescindível para todo judeu aceitar Yeshua.

Eu penso que a maioria das igrejas, inconscientemente,  tem um certo preconceito contra os judeus por eles serem um povo escolhido por Deus, independente do que fazem.

Daniel Juster:A maioria dos crentes podem pensar assim por sentirem vontade de serem descendentes dos personagens bíblicos. Porém, o próprio Yeshua diz que nEle, Cristo, o gentio crente é descendente de Abraão pela fé. E Paulo afirma que não há diferença, em termos de benfícios, do judeu crente para o gentio crente. Ninguém é maior do que ninguém. Têm chamados diferentes mas, diante de Deus, são iguais.

Desde a criação da Revista Cristã, decidimos separar um espaço para falarmos sobre Israel, com o objetivo de conscientizar a igreja de Cristo da necessidade e dos benefícios de se interceder pelo povo judeu.  Fale um pouco sobre esta necessidade.

Daniel Juster:É muito importante este contato que vocês têm com os judeus messiânicos. A Bíblia nos diz que não existe a igreja sem Israel e nem Israel sem a igreja. O espaço que o judeu crente tem, através da abertura que a revista tem dado, para fazer parte da igreja, para abençoar e ser abençoado é maravilhoso. Nenhum outro veículo fez isso antes. Muito obrigado por isso.

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